CABUL/WASHINGTON - Milhares de muçulmanos saíram às ruas do Afeganistão nesta sexta-feira em protesto contra um pastor norte-americano que planejava queimar exemplares do Alcorão. Alguns manifestantes ameaçaram atacar bases militares dos EUA.
Uma pessoa foi morta a tiros e várias outras ficaram feridos durante um protesto em frente a um quartel alemão da Otan no nordeste do Afeganistão. A Otan informou que estava investigando as manifestações, que depois se espalharam por Cabul e pelo menos quatro outras províncias afegãs.
O pastor evangélico Terry Jones desistiu na quinta-feira do plano de queimar exemplares do Alcorão no dia 11 de setembro, depois de enfrentar uma forte condenação internacional e ser alertado pelo presidente Barack Obama de que o ato poderia estimular atos de violência no mundo todo, inclusive atentados suicidas da Al Qaeda.
No entanto, na noite da quinta-feira, horas depois de anunciar o cancelamento de seu protesto, Jones mudou de ideia. Ele disse que havia sido enganado por um líder muçulmano da Flórida, que lhe teria prometido que um centro cultural islâmico a ser construído perto do terreno do antigo World Trade Center, em Nova York, seria mudado de lugar.
"Diante do que agora estamos ouvindo, somos forçados a repensar nossa decisão (de cancelar a queima)," disse ele à CNN. "Então, por enquanto, não estamos cancelando o evento, mas estamos suspendendo-o."
Na manhã desta sexta-feira ele reviu novamente seus planos.
"No momento, não temos planos de fazer isso", disse Jones ao programa "Good Morning America", da TV ABC."Acreditamos que o imã vai manter sua palavra, o que nos prometeu ontem... Acreditamos que iremos, como ele disse e prometeu, nos reunir com o imã em Nova York amanhã."
O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, telefonou para Jones pedindo a ele que não faça o seu protesto, segundo um porta-voz do Pentágono, pois isso iria "colocar a vida de nossos militares em risco, especialmente no Iraque e no Afeganistão".
Uma fonte do governo afegão estimou que 10 mil pessoas tenham saído das mesquitas e tomado as ruas de Faizabad (nordeste afegão) depois das preces especiais do Eid al Fitr, que marca o fim do mês islâmico do Ramadã, dedicado ao jejum e à oração.
O manifestante foi morto quando um pequeno grupo atacou a pedradas um quartel alemão na cidade, segundo um porta-voz do governo provincial. A Otan disse estar investigando o incidente.
Forças afegãs restauraram a ordem no local, e três policiais ficaram feridos por pedradas, segundo o porta-voz.
Em Nangahar (leste), chefes tribais ameaçaram atacar quartéis da Otan perto da fronteira com o Paquistão se Jones insistir no seu protesto.
Nas mesquitas da capital, clérigos qualificaram o plano de perigoso. "Os muçulmanos estão preparados para sacrificar seus filhos, pais e mães pelo Islã e pelo Alcorão", disse um pregador em Cabul, sob gritos de "Deus é grande."
Na quinta-feira, Jones havia dito que desistiria de queimar o Alcorão no aniversário dos atentados porque havia recebido de um líder islâmico da Flórida a garantia de que o centro cultural de Nova York seria mudado de lugar.
Grupos conservadores consideram inadequado que uma mesquita seja construída tão perto do local onde militantes islâmicos mataram quase 3.000 pessoas há nove anos.
Mas tanto o imã da Flórida, Muhammad Musri, quanto o clérigo de Nova York que é responsável pelo projeto, Feisal Abdul Rauf, negaram então que a mudança tenha sido decidida.
Jones disse que irá viajar no sábado a Nova York com Musri para se reunir com Rauf.
(Reportagem adicional de Ben Gruber em Gainesville, Pascal Fletcher e Kevin Gray em Miami, redação de Teerã, Matt Spetalnick, Alister Bull, Andrew Quinn e Phil Stewart em Washington)Fonte:Reuters/Yahoo